Treinamento para Estabilidade do Core. Uma Análise Crítica

Nas últimas décadas, os termos estabilidade do core e treinamento “funcional” têm sido intensivamente utilizados entre profissionais da área de saúde e atletas [1]. Todavia, as evidências científicas para tais programas de treino são escassas [1, 2].
Muitos artigos na literatura promovem programas e exercícios para os músculos do core, mas sem fornecer uma forte racionalidade científica sobre a sua efetividade [2]!
A revisão realizada por Wirth et. al. [1] faz uma análise crítica de tais conceitos, incluindo a classificação dos músculos da região do tronco em global e local, ativação seletiva e o treinamento em superfícies instáveis.

Segue os principais destaques do trabalho

1. O termo estabilidade do core ainda não tem uma definição clara na literatura; Estabilização, fortalecimento e ativação são frequentemente usados lado a lado, mas são objetivos independentes; todavia, a estabilização é resultado da força muscular;
2. Diretrizes extraídas de terapias para pacientes com dores nas costas são inapropriadas para atletas profissionais; surpreendentemente, nenhuma investigação comparou a efetividade dos exercícios chamados de “funcionais” para reabilitação de dores nas costas, com demais considerados como estressantes “globais” por um período mais extenso;
3. A integração dos movimentos de rotação do tronco não é de todo “funcional”, aumentando apenas a possibilidade de lesões por uso;
4. Treinamentos em superfícies instáveis não são específicos, nem sequer “funcionais” e não são recomendados; nenhum estudo comprovou correlações fortes entre o desempenho esportivo e o treinamento nessas condições;
5. Não foram encontradas evidências reportando diagnósticos, ou artigos reportando déficit seletivo dos músculos do core em atletas treinados em força; também não há evidências de que exercícios clássicos como o agachamento, levantamento terra, arranco e o arremesso afetam apenas músculos que levam ao desbalanço entre os músculos do core;
6. A ênfase na importância em poucos músculos isolados não é justificada e a classificação em local e global é inapropriada;
7. Analisando algumas recomendações, é surpreendente encontrar exercícios como kneeling hip extension e prone ou side plank. Uma vez que não conseguimos pensar em nenhuma situação - seja nos esportes, ou vida diária - onde essas ações motoras acontecem. Portanto, concluímos que esses exercícios não são "específicos”, nem “funcionais” e, portanto, não são recomendados. Este é apenas um exemplo de argumentos inconsistentes feitos por protagonistas do treinamento de estabilidade do core.
8. Os exercícios clássicos do treinamento de força são os mais recomendados para estimular as adaptações desejadas.

Quer saber mais?

Assista as aulas no Fisiologia do Treinamento sobre o Treinamento para Estabilidade do Core. Uma Análise Crítica, onde discutimos esse e demais estudos.
Bons estudos!

Referências
1. Wirth K, Hartmann H, Mickel C, Szilvas E, Keiner M, Sander A. Core Stability in Athletes: A Critical Analysis of Current Guidelines. Sports Medicine. 2017;47(3):401-14.
2. Hibbs AE, Thompson KG, French D, Wrigley A, Spears I. Optimizing performance by improving core stability and core strength. Sports medicine (Auckland, NZ). 2008;38(12):995-1008.

Autor : Bernardo Neme Ide, Ph.D.

Bernardo N. Ide possui Mestrado e Doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente, ele atua como Docente na Pós-Graduação em Bioquímica e Fisiologia Aplicadas ao Treinamento Físico, também na Unicamp.