Treinamento baseado em velocidade (VBT) é realmente melhor do que os métodos tradicionais?

  • 30-10-2023

O Treinamento Baseado em Velocidade (VBT) utiliza feedback de velocidade instantânea para monitorar e ajustar objetivamente a carga do treinamento de força. Uma vez que a velocidade do movimento e a carga da barra são inversamente relacionadas, mudanças na velocidade alcançada contra uma determinada carga indicam mudanças na capacidade de desempenho de um indivíduo.

De fato, uma diminuição na velocidade da barra está associada à fadiga neuromuscular, enquanto uma maior velocidade alcançada contra uma carga absoluta dada indica uma prontidão neuromuscular aprimorada. Assim, o VBT pode ser usado para manipular objetivamente a carga de treinamento de força de acordo com o estado fisiológico atual de um indivíduo.

Embora existam vários métodos dentro do paradigma VBT, duas abordagens principais incluem zonas de velocidade e limiares de perda de velocidade. Zonas de velocidade envolvem a realização de um conjunto de repetições a uma velocidade concêntrica média que se enquadra em um limite pré-definido.

As zonas de velocidade podem ser genéricas ou derivadas do perfil de carga-velocidade de um indivíduo. Limiares de perda de velocidade envolvem a realização de repetições em um conjunto até que a velocidade de repetição caia abaixo de um limite pré-especificado.

Vários artigos publicaram diretrizes sobre como implementar o VBT, baseados em grande parte na noção de que o VBT pode levar a adaptações de treinamento superiores em comparação com métodos tradicionais de treinamento de força e potência. No entanto, estudos individuais que comparam diretamente os efeitos do VBT com métodos tradicionais de treinamento relataram resultados mistos e imprecisos, o que pode ser devido a diferenças nas características específicas da intervenção e/ou erros de amostragem associados a tamanhos de amostra pequenos.

Objetivos do Estudo
O estudo teve como objetivo estimar a eficácia do uso de feedback de velocidade para regular a carga de treinamento resistido em mudanças na força muscular, potência e velocidade de sprint linear em participantes aparentemente saudáveis.

Metodologia
Para cumprir seu objetivo, os autores realizaram uma busca sistemática em bases de dados acadêmicas e literatura cinza. Quatro ensaios clínicos randomizados atenderam aos critérios de elegibilidade, totalizando 27 estimativas de efeito e 88 participantes. Os métodos de análise incluíram a ferramenta de "Risco de Viés 2" e a abordagem GRADE para avaliar a qualidade das evidências.

Resultados
Os resultados principais mostraram diferenças triviais e estimativas de intervalo imprecisas para efeitos na força muscular, potência e velocidade de sprint linear entre os grupos de VBT e treinamento resistido tradicional. 
Especificamente, a análise apresentou as seguintes diferenças padronizadas de médias (SMDs):
Força muscular (SMD 0,06, IC 95% -0,51-0,63);
Potência (SMD 0,11, IC 95% -0,28-0,49);
Velocidade de sprint (SMD -0,10, IC 95% -0,72-0,53).

Assim sendo, os resultados mostram que não há evidências atualmente que suportem que VBT e métodos tradicionais de treinamento levam a diferentes alterações na força, potência ou velocidade. Isso ocorre apesar das diversas diretrizes publicadas sobre como implementar VBT e da noção generalizada de que VBT pode levar a adaptações de treinamento superiores em comparação com métodos tradicionais.

Implicações Práticas
É importante considerar que o VBT requer o uso de dispositivos relativamente caros e tempo adicional para configuração do equipamento, o que pode ser um desafio em configurações de grupo grande. Dada a incerteza atual da evidência, os profissionais de saúde devem ponderar esses fatores ao decidir entre VBT e métodos tradicionais.

Conclusões
Não há evidências atuais que indiquem que VBT e métodos de treinamento tradicionais levam a diferentes adaptações em força muscular, potência ou velocidade de sprint linear. Mais pesquisas com amostras maiores são necessárias para aumentar a precisão das estimativas de efeito e a qualidade geral da evidência.

Referência Completa
Orange ST, Hritz A, Pearson L, Jeffries O, Jones TW, Steele J. "Comparison of the effects of velocity-based vs. traditional resistance training methods on adaptations in strength, power, and sprint speed: A systematic review, meta-analysis, and quality of evidence appraisal." J Sports Sci. 2022 Jun;40(11):1220-1234. doi: 10.1080/02640414.2022.2059320. Epub 2022 Apr 5. PMID: 35380511.

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