Suplementação com corpos cetônicos potencializa a angiogênese?

  • 24-07-2023

A busca por estratégias que possam potencializar os benefícios do treinamento de resistência tem sido uma área de intensa investigação na ciência do exercício. Nesse contexto, a cetose exógena, uma abordagem que envolve a suplementação com corpos cetônicos, vem ganhando destaque como uma ferramenta possível para otimizar a resposta angiogênica induzida pelo treinamento físico.
Um estudo recente fornece novas evidências para apoiar o potencial da cetose exógena na angiogênese induzida pelo treinamento de resistência.
Você sabe o que são corpos cetônicos?
Nos humanos e maior parte dos mamíferos, o acetil-CoA formado no fígado durante a oxidação dos ácidos graxos, pode entrar no ciclo de Krebs, ou então ser convertido aos chamados “corpos cetônicos” (acetona, acetoacetato e ?-hidroxibutirato), que são exportados para outros tecidos (Nelson, Lehninger et al. 2008). O termo “corpos cetônicos” é ocasionalmente aplicado para denominar partículas insolúveis, mas, que nesse caso, são solúveis no sangue e urina. A acetona é produzida em menores quantidades do que os demais corpos cetônicos e é exalada. O acetoacetato e ?-hidroxibutirato são transportados pela corrente sanguínea para tecidos extra-hepáticos, onde são convertidos a acetil-CoA e oxidados no ciclo de Krebs, fornecendo assim muito da energia requisitada por tecidos como o músculo esquelético, o coração e o córtex renal (Nelson, Lehninger et al. 2008). 
Quando a glicose está indisponível, o cérebro - que usa preferencialmente a glicose como combustível - pode se adaptar para usar o acetoacetato e/ou o ?-hidroxibutirato, em situação de inanição. A produção e exportação de corpos cetônicos do fígado para tecidos extra-hepáticos, permite a continuidade da oxidação de ácidos graxos no fígado, quando o acetil-CoA não está sendo oxidado no ciclo de Krebs (Nelson, Lehninger et al. 2008). 
Os corpos cetônicos são produzidos em diabéticos e durante a inanição
Indivíduos em inanição e/ou com diabetes mellitus, possuem uma superprodução de corpos cetônicos, juntamente com vários problemas associados. Durante a inanição, a gliconeogênese depleta os intermediários do ciclo de Krebs, levando a produção de corpos cetônicos advindos do acetil-CoA. Em indivíduos diabéticos - nos quais os níveis de insulina são insuficientes - os tecidos extra-hepáticos não podem captar a glicose sanguínea de forma eficiente. Nessas condições, os níveis de malonil-CoA (a matéria prima para síntese de ácidos graxos) caem, a inibição do complexo carnitina aciltransferase I é liberada e os ácidos graxos entram na mitocôndria para serem degradados a acetil-CoA. O resultante acúmulo de acetil-CoA, acelera a formação de corpos cetônicos além da capacidade de os tecidos extra-hepáticos oxidá-los. O aumento nos níveis sanguíneos de acetoacetato e ?-hidroxibutirato diminuem o pH sanguíneo, causando uma acidose, que pode levar ao coma e em alguns casos à morte. 
Os níveis normais de corpos cetônicos no sangue são de ?90 mg/100 mL e a excreção na urina é de ?125 mg/dia. Já em indivíduos diabéticos não tratados, podem alcançar concentrações de ?90 mg/100 mL no sangue e excreção urinária de ?5.000 mg/dia. Essa condição é chamada de cetose. Indivíduos com dietas muito baixas em carboidratos também possuem níveis aumentados de corpos cetônicos no sangue e urina. Tais níveis devem ser monitorados a fim de evitarmos os perigos associados à cetoacidose.
O estudo que suplementou com corpos cetônicos

Os pesquisadores por trás do estudo tiveram como objetivo investigar se a ingesta de ésteres cetônicos (KE) poderia aumentar os fatores pró-angiogênicos e estimular a angiogênese durante um período de 3 semanas de treino de resistência. Para isso, eles recrutaram voluntários saudáveis do sexo masculino, que foram admitidos a um protocolo de treinamento intenso. Durante o período de estudo, os indivíduos realizaram 10 sessões de treinamento de resistência por semana.

Métodos e resultados
Os participantes foram divididos em dois grupos: o primeiro grupo recebeu 25 g de um éster de cetona (KE, n = 9) imediatamente após cada sessão de treinamento e antes de dormir, enquanto o segundo grupo recebeu uma bebida de controle (CON, n = 9) no mesmo período. Essa divisão permitiu que os pesquisadores comparassem os efeitos da suplementação com corpos cetônicos com o grupo controle, que não recebeu a suplementação.
Após o período de 3 semanas, os resultados revelaram descobertas promissoras. O grupo que recebeu a suplementação com ésteres cetônicos apresentou um aumento significativo nos fatores pró-angiogênicos quando comparado ao grupo controle. Além disso, a análise da angiogênese demonstrou uma resposta mais acentuada no grupo KE em comparação ao grupo CON. Esses resultados sugerem que a cetose exógena pode efetivamente potencializar a formação de novos vasos sanguíneos, uma resposta fisiológica essencial para melhorar o desempenho durante o treinamento de resistência.
As descobertas do estudo são importantes para atletas, profissionais de educação física e entusiastas do exercício que buscam maximizar os benefícios do treinamento de resistência. A possibilidade de melhorar a angiogênese através da suplementação com corpos cetônicos pode significar uma preparação na recuperação muscular, aumento da capacidade aeróbica e resistência, bem como uma melhora geral no desempenho físico.
No entanto, é essencial destacar que, embora os resultados sejam promissores, ainda são necessárias mais pesquisas para compreender completamente os procedimentos envolvidos na relação entre a cetose exógena e a angiogênese induzida pelo treinamento de endurance. Além disso, o estudo teve uma amostra restrita de voluntários saudáveis do sexo masculino, o que limita a generalização dos resultados para outras populações.
Conclusão
Em conclusão, a pesquisa sobre a suplementação com corpos cetônicos e seus efeitos na angiogênese abre novas perspectivas para o aprimoramento do treinamento de endurance. A cetose exógena pode representar uma ferramenta potencialmente valiosa para atletas e entusiastas do exercício que desejam explorar soluções inovadoras para melhorar o desempenho físico. Entretanto, é importante lembrar que qualquer forma de suplementação deve ser abordada com cuidado e supervisão por profissionais protegidos, garantindo a segurança e eficácia do uso desses compostos.
À medida que a ciência continua a avançar, é com certeza que mais estudos sejam seguidos nessa área, explicando ainda mais os benefícios e limitação da suplementação com corpos cetônicos. Até lá, é recomendado que os interessados busquem orientação de profissionais de saúde e educação física para tomar decisões sobre a inclusão dessas estratégias em suas rotinas de treinamento.

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