O que é Treinamento Funcional, Funcional de Alta Intensidade e Fitness Funcional?

Força, potência, resistência e flexibilidade são conceitos bem definidos dentro da prescrição de exercícios e o estudo de adaptações ao treinamento.

O treinamento de força e potência engloba atividades de curta duração realizadas em intensidades altas ou quase máximas, aumentando a capacidade de realizar esforços de alta força e alta velocidade. Os exercícios empregados nesses programas envolvem treinamento de força tradicional, exercícios balísticos, pliométricos e levantamento de peso no estilo olímpico.

Por outro lado, o treinamento de resistência (aeróbico ou cardiorrespiratório) engloba atividades realizadas em várias intensidades, durando de vários minutos a horas, aumentando a capacidade de sustentar esforços repetitivos de alta e baixa intensidade, englobando a aplicação de treinamento contínuo e de alta intensidade intervalada (HIIT).

Apesar dessas caracterizações bem consolidadas da demanda física nos esportes, programas de treinamento e adaptações, um número crescente de artigos introduz aparentemente "novos" programas de treinamento físico. Hoje em dia, é comum ouvir de estudantes, treinadores e atletas: “Estou trabalhando com treinamento funcional (FT)”, “Estou envolvido em um programa FT de alta intensidade”, “Estou investigando as respostas neuromusculares ao treinamento funcional.” Essas afirmações chamaram nossa atenção e foram anteriormente criticadas. Recentemente, levantamos questões sobre os conceitos e definição de FT. Infelizmente, encontramos inconsistências e equívocos na definição de FT, referências citadas que não apoiam as declarações e nenhuma diferença em relação aos benefícios e métodos de treinamento já utilizados no treinamento esportivo.

O que é Treinamento Funcional (FT)?

Treinamento funcional é um termo redundante, pois força, potência, flexibilidade e resistência são aspectos funcionais do sistema neuromuscular. Além disso, o FT foi relacionado ao desenvolvimento de diferentes capacidades físicas de forma "integrada e equilibrada". No entanto, exercícios de força combinados com exercícios de resistência podem ser descritos como "combinados" ou "concorrentes". Portanto, não há necessidade de "criar" uma nova terminologia contendo inconsistências.

Em relação às adaptações neuromusculares, os estudos afirmam que os programas de FT visam aumentar a eficiência e a segurança durante as atividades relacionadas ao cotidiano, ao trabalho e aos esportes. No entanto, todos esses benefícios já estão bem relacionados à prática de programas de treinamento tradicionais. Portanto, não é uma característica exclusiva ou diferenciadora dos programas de FT per se.

O que é Treinamento Funcional de Alta Intensidade (HIFT) e Fitness Funcional (FF)?

O HIFT é definido como programa que envolve exercícios de alto volume e alta intensidade, com intervalos curtos de descanso, utilizando exercícios multiarticulares. Todavia, essa definição consiste em uma descrição básica de uma sessão de força, potência e resistência adotada como parte da preparação de atletas de elite em fases específicas de periodização. O FF foi declarado também conhecido como HIFT. Portanto, FF é HIFT, e a diferença encontrada entre os programas de FT e HIFT é inconsistente. Além disso, como a intensidade do exercício é uma variável de treinamento e não um tipo de exercício, esperar-se-ia que FT e HIFT fossem definidos como o mesmo programa de treinamento realizado com diferentes intensidades apenas. Foi surpreendente que eles sejam considerados entidades separadas.

Outra inconsistência na definição de FF foi o uso da expressão programa de condicionamento extremo. Se o adjetivo "extremo" é empregado para classificar esses programas, que tipo de adjetivo deveríamos usar para classificar os programas de treinamento físico realizados por atletas de elite ou profissionais? Temos consciência de que os programas de treinamento físico promovidos por algumas empresas de fitness (por exemplo, CrossFit®, Insanity®, Gym Jones® e P90X®) foram anteriormente classificados como programas de condicionamento extremo. Eles são definidos como envolvendo tipicamente exercícios de alto volume e alta intensidade, com intervalos curtos de descanso e exercícios multiarticulares. Alguns incluem levantamento de peso olímpico e treinamento intervalado de alta intensidade, pliometria e exercícios balísticos. No entanto, essa configuração de treinamento não é exclusiva, pois já foi adotada como parte dos programas de treinamento de atletas de elite em fases específicas de periodização.

Conclusões

A principal confusão sobre todos esses "novos" programas de treinamento é que eles geralmente se sobrepõem aos programas tradicionais de força, potência, resistência e flexibilidade. Movimentos/exercícios/atividades funcionais são frequentemente citados como estímulos de treinamento, mas os movimentos não funcionais não são definidos. Pelo que sabemos, também não existe uma definição concisa de movimentos funcionais. A propósito, existe algum movimento não funcional? Infelizmente, considerar o treinamento funcional, funcional de alta intensidade e fitness funcional como novos programas de treinamento, reflete uma falta de conhecimentos básicos de fisiologia do exercício e treinamento esportivo. Na preparação física de um atleta de modalidade intermitente esses métodos sempre foram usados e não representam novidade alguma no contexto do treinamento esportivo.

Referência para o estudo original

Ide BN, Silvatti AP, Marocolo M, Santos CPC, Silva BVC, Oranchuk DJ and Mota GR (2022) Is There Any Non-functional Training? A Conceptual Review. Front. Sports Act. Living 3:803366. doi: 10.3389/fspor.2021.803366

Autor : Bernardo N. Ide, Ph.D.

Bernardo N. Ide, é Mestre e Doutor pela Unicamp e Docente da Pós em Bioquímica e Fisiologia Aplicadas ao Treinamento Físico, Unicamp.