Recentemente, publicamos um trabalho (https://journal.iusca.org/index.php/Journal/article/view/210) mostrando o uso inadequado do termo 'explosivo' na literatura científica relacionada à ciência do esporte. Propomos alternativas, incentivando o uso de definições corretas de termos, unidades e nomenclaturas para descrever o desempenho no exercício. Todavia, apesar de toda discussão científica fomentada, e conceitos coerentes apresentados, ainda há defensores do termo (i.e., explosivo) que colocam a necessidade de separação entre as necessidades, ou linguagem, dos cientistas e as necessidades e linguagem dos profissionais que atuam apenas na prática.

Os defensores do termo 'explosivo' argumentam que os autores devem indicar claramente o público-alvo, pois existe uma diferença distinta entre a mentalidade de um treinador e a de um biomecânico que passa o tempo todo pesquisando. Adicionalmente, a justificativa é que há vários treinadores com uma formação mínima em biomecânica, tornando necessário o emprego de jargões para melhor compreensão prática dos conceitos apresentados nos trabalhos científicos.

Nesse sentido, vejo que chegamos a um acordo quanto à missão dos cientistas em preencher a lacuna entre a pesquisa e a prática. Consequentemente, compreendemos a necessidade de fornecer explicações para termos/conceitos científicos que podem ser desconhecidos para treinadores e atletas com falta de conhecimento em biomecânica. Contudo, gostaríamos de apresentar três contrapontos a esta questão:

1. Não podemos generalizar que todos os treinadores e atletas não tenham formação em física para compreender esses conceitos mecânicos básicos. Na maioria dos sistemas educacionais, as leis do movimento de Newton e os conceitos de trabalho, força e potência são normalmente introduzidos nos cursos de física durante o ensino médio. O ano ou série específico pode variar dependendo do currículo e dos padrões educacionais de um determinado país ou região. Portanto, acreditamos que a maioria dos treinadores e atletas conseguem compreender facilmente esses conceitos mecânicos apresentados em nosso artigo e em vários outros artigos publicados nos periódicos científicos.

2. A missão dos professores em fazer a ponte entre a investigação e a prática consiste em formar estes profissionais para que possam compreender os termos/conceitos necessários para uma aplicação adequada na sua prática profissional. Portanto, em vez de alterar estes conceitos, tentando explicá-los de forma diferente com linguagem não científica, devemos reforçar a sua compreensão, conforme necessário.

3. Comparando conceitos mecânicos básicos com conceitos biológicos básicos, quando um tema como hipertrofia muscular é objeto de estudo, os trabalhos usam termos/conceitos como 'regulação positiva na síntese de proteínas musculares', 'tecido conjuntivo', 'proteína de colágeno', 'membranas de fibras musculares ou sarcolema', 'miofibrilas', 'retículo mitocondrial', 'sarcômeros', 'recrutamento neural', entre outros. No entanto, não vemos estes conceitos/termos de fisiologia neuromuscular e biologia molecular sendo alterados para uma melhor compreensão daqueles que não possuem conhecimentos básicos de biologia. Eles são apresentados, brevemente explicados e os autores fornecem elegantemente referências adequadas para leitores que desejam se aprofundar nesses conceitos. 

Para concluir, é vital reconhecer a importância de uma comunicação clara e precisa na ciência do esporte. Embora seja essencial adaptar a linguagem científica para facilitar a compreensão por parte de profissionais não especializados, isso não deve comprometer a precisão técnica. Devemos nos esforçar para educar e elevar o nível de compreensão dos conceitos, em vez de simplificar excessivamente a terminologia para acomodar lacunas de conhecimento. Por fim, a clareza na comunicação científica não apenas melhora a prática profissional, mas também enriquece o conhecimento geral, promovendo uma melhor integração entre teoria e prática no campo do esporte e do exercício físico.