A Fase de recepção da barra e as variações das puxadas dos levantamentos de peso

Tanto no arranco, como no arremesso, a chamada fase de recepção da barra requer que o atleta se projete para baixo dela. Para tanto, os atletas devem realizar uma rápida rotação dos cotovelos em torno da barra e flexionar os joelhos, o quadril e os tornozelos, realizando o movimento oposto ao que ocorre na fase das “puxadas”, onde a barra é tirada da inércia, requisitando muita força e potência muscular. 

A diferença entre os exercícios, é que no arremesso - além da rápida rotação dos cotovelos acima mencionada - é requisitada uma projeção dos cotovelos para frente, com o posterior apoio da barra sobre os ombros no movimento de agachamento frontal (front squat). Já no arranco, o atleta deve se projetar na posição do agachamento com a barra acima da cabeça, fazendo com que os cotovelos fiquem estendidos, uma posição chamada de overhead squat.

Um dos principais problemas com esses movimentos envolvidos na fase de recepção da barra, é que o único esporte que efetivamente requer essa fase nas competições é o LPO. Todavia, a grande maioria dos atletas que incorporam o LPO na sua preparação física, não são atletas da modalidade. Eles somente querem usufruir das respostas adaptativas induzidas pelos exercícios no tocante ao desenvolvimento da força e potência muscular. Assim sendo, a literatura atualmente questiona se a fase de recepção da barra é realmente necessária para todos os atletas 1.

As pesquisas apontam que, quando realizados com as mesmas intensidades absolutas e nas situações com, ou sem a fase de recepção, não existem diferenças estatisticamente significativas na expressão da força, potência e taxa de desenvolvimento de força entre os exercícios mid-thigh pull e mid-thigh power clean 2,3 e que a maior parte da transferência de força vem especificamente das fases de puxada e não da recepção da barra 4. 

Assim sendo, parece que eliminar a fase de recepção da barra não é prejudicial par ao desempenho dos atletas, podendo produzir estímulos de força e potência até superiores, quando comparados aos movimentos completos 1. Todavia, isso não significa que os movimentos que incluem a fase de recepção devam ser totalmente eliminados, mas sim realizados com menos frequência, pois altos índices de lesões têm sido associados a essa fase em específico 5. 

Considerando os aspectos acima mencionados, algumas variações dos exercícios de LPO - que também envolvem a tripla extensão das articulações do quadril, joelhos e tornozelo - têm sido propostas como estímulos tão bons quanto os movimentos completos no tocante a otimização da relação força-velocidade 1,6. A literatura propõe que tais variações possam afetar a curva força-velocidade de distintas maneiras. Os exercícios mais comumente reportados são o Clean Pull, Snatch Pull, Hang High Pull, Jump Shrug e o Mid-Thigh Pull.

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Referências
1 Suchomel, T. J., Comfort, P. & Stone, M. H. Weightlifting pulling derivatives: rationale for implementation and application. Sports Med 45, 823-839, doi:10.1007/s40279-015-0314-y (2015).
2 Comfort, P., Allen, M. & Graham-Smith, P. Comparisons of peak ground reaction force and rate of force development during variations of the power clean. J Strength Cond Res 25, 1235-1239, doi:10.1519/JSC.0b013e3181d6dc0d (2011).
3 Comfort, P., Allen, M. & Graham-Smith, P. Kinetic comparisons during variations of the power clean. J Strength Cond Res 25, 3269-3273, doi:10.1519/JSC.0b013e3182184dea (2011).
4 Enoka, R. M. The pull in olympic weightlifting. Med Sci Sports 11, 131-137 (1979).
5 Stone, M. H., Fry, A. C., Ritchie, M., Stoessel-Ross, L. & Marsit, J. L. Injury Potential and Safety Aspects of Weightlifting Movements. Strength & Conditioning Journal 16, 15-21 (1994).
6 Suchomel, T. J., Comfort, P. & Lake, J. P. Enhancing the Force–Velocity Profile of Athletes Using Weightlifting Derivatives. Strength & Conditioning Journal 39, 10-20, doi:10.1519/ssc.0000000000000275 (2017).

Autor : Bernardo N. Ide, PhD

Bernardo N. Ide é Doutor e Mestre em Biodinâmica do Movimento Humano pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Possui bacharel em Treinamento Esportivo, pela Unicamp. Realizou o Pós-doutorado pelo Laboratório de Bioquímica do Exercício (Labex), no Instituto de Biologia (IB), da Unicamp, e o Pós-doutorado pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Atuou como professor por dez anos no curso de Pós-graduação em Bioquímica, Fisiologia, Nutrição e Treinamento Esportivo do Labex, IB, Unicamp.