A Faixa Preta e o Doutorado

Hoje comemoramos o Dia do Faixa Preta. Parabenizo a todos aqueles que conquistaram essa graduação, reconhecendo toda coragem, resistência e resiliência exigidas para atingir tal façanha.

Gostaria de aproveitar esta data para compartilhar uma experiência pessoal. No dia em que recebi minha faixa preta, um ex-colega de laboratório pegou-a em mãos de forma desrespeitosa e questionou, em tom de deboche: "Quanto dinheiro isso vai te dar?".

No momento, não encontrei uma resposta adequada, mas após refletir com calma, gostaria de compartilhar minha percepção sobre esse questionamento.

Esse colega enfrentou diversas dificuldades durante sua pesquisa, o que é comum na vida acadêmica. Teve dificuldades em analisar dados, realizar um bom desenho experimental, escrever sua tese, formatar adequadamente seu trabalho e construir figuras e tabelas. Durante todo esse processo, recebeu grande apoio dos colegas e de nossa orientadora, facilitando sua caminhada rumo ao título de doutor. Sua defesa transcorreu sem grandes obstáculos, diante de uma banca composta por amigos e colegas próximos.

Fazendo uma comparação com o caminho até a faixa preta, percebo diferenças importantes. No tatame, ninguém facilita o processo. Após aprender as técnicas, você deve aplicá-las sozinho, enfrentando adversários diariamente, frequentemente mais jovens e mais fortes, todos empenhados em vencê-lo e demonstrar que você ainda precisa evoluir mais. Nas lutas, não existem atalhos ou ajudas excessivas; mesmo nossos amigos são, muitas vezes, nossos maiores desafios nos treinamentos.

Diferente de um título que pode, por vezes, ser obtido com facilidades externas, a faixa preta não é fornecida; não se compra. Ela é conquistada com suor, dedicação e persistência.

Hoje, responderia a ele: "Você está certo, minha faixa preta não me traz dinheiro diretamente. Ela simboliza a trajetória de luta, disciplina e dedicação em um esporte que amo profundamente. E eu lhe pergunto: Qual é a verdadeira diferença para o seu doutorado?"

Feliz Dia do Faixa Preta a todos que entendem e valorizam esta conquista.

Autor : Bernardo N. Ide, PhD

Bernardo N. Ide possui Bacharelado em Treinamento Esportivo, Mestrado e Doutorado em Biodinâmica do Movimento Humano pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi Pesquisador Pós-Doutorado pela Unicamp e é atualmente pela UFTM. Com 13 anos de experiência, atuou como Professor no curso de Pós-graduação em Bioquímica, Fisiologia, Nutrição e Treinamento Esportivo do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. Além disso, é docente no Centro Universitário UniAnchieta, Jundiaí, SP.